terça-feira, 4 de agosto de 2009

E eu, não mentirei, mantive-o pela noite

A ardência na garganta surgiu fazendo com que meus olhos despejassem água salgada, aquela que correu em encontro aos meus lábios secos e foi lentamente absorvida.Lembraram-me do canto dos pássaros apressados, eles que mancharam meu céu e se esconderam no fim da tarde sangrenta. O sol grandioso esmagando o patético horizonte. Consegue visualizar o tão glorioso fim?

Senti a nostalgia tomar conta do corpo fraco e da mente fechada. Qual seria a palavra certa? Talvez saudades. Talvez o tão tolo arrependimento. Aquele que transformou noites em longos anos – o suor pingando da testa do acordado garoto às quatro e meia da manhã.Os longos cílios se fecharam em uma expressão que te abana o adeus, despedindo as memórias lambidas pelo oceano.

Perdi meu tempo com apostas... Talvez dois anos e meio afogada em sentimentos nada nobres, tornando minha carne exposta livre ao toque de qualquer um com sorte nos jogos.Já tinha esquecido de apreciar o reflexo do espelho, o orgulho costumava inflar e meus lábios desenhados eram abertos em um sorriso torto e agradável. A cidade roubou a dignidade e a sobriedade da minha vida, cruzando becos assassinos e silenciosos. Marcando meus olhos – sem volta.

Lá estava eu, junto a ele. Meu menino. Tão jovem e desentendido, que seus pequenos olhos cor de amêndoa obrigavam você á sorrir. O último homem que me abraçou com sentimento, tornando o dia acabado em um início de tarde longe da fumaça de meus cigarros.“Aonde será que eu poderei vê-la novamente?” A pergunta ecoando no quarto escuro, enquanto ele brincava carinhosamente com seus dedos em meu corpo nu.

Eu nunca tive chance de responder a sua pergunta, porque o calor de minha língua furiosa o deu certezas nunca perguntadas antes.
E lá estávamos juntos. Pra sempre? O fim é glorioso demais para ser evitado e maquiado. Que venha! Enquanto isso a música de nossos gemidos pode ser abafada pelas cobertas que nos mantinham afastados por pequenos momentos. O seco se tornando úmido, o chão tornando o meio intocável... A dor próxima e real.

E aquilo que senti quando meu coração tentou cavar meu peito não tinha nome, era um completo estranho tomando conta da minha vida e navegando o meu navio por cima das ondas violentas. Era puro e ingrato, com cheiro de limão e gosto daquela paisagem esverdeada. O mantive perto de mim aquela noite, pois parecia que algo se enchia de prazer quando por perto ele permanecia.

Quando por perto, finalmente, eu existia.

sábado, 4 de julho de 2009

I wanna see what your insides may be

- Não te entendo.
- E nem eu.
- (...)
- Já se decidiu?
- Sim.
- E o que fará?
- Nada.
(...)
- E desde quando isso é solução? Você me deixa confuso.
- Não disse que essa é a solução. Disse? Você é naturalmente confuso, não me culpe por isso.
- Então qual é a solução?
- E eu sei?
(...)
- Desisto de ti, garota.
- Eu sei que não. De uma forma ou outra, você sempre estará comigo. Porque você precisa.
- Eu te amo.
- Eu não. Não vou dizer o que sinto, é passageiro. Descartável.
- Não precisa dizer. É até melhor que não diga. Fica mais bonita em silêncio.
(...)

Silence.
Sinto a chuva gelar a minha pele. Como pequenas faíscas que me relembram que continuo ali, sentada. Continuo no mesmo lugar. Sendo esperada, pois não espero pelas pessoas. Elas simplesmente entram na minha vida. A única coisa que eu posso fazer é tirá-las de lá. Porque é algo meu, totalmente. Absoluto. Tóxico.

Meus dedos correm pelas minhas pernas descobertas, arranhando-as enquanto, de uma forma imediata, a chuva lava o pouco sangue que escorre. São só marcas físicas. Feitas para distrair as psicológicas, as fundas que te colocam em lugares irracionais. Fazendo com que a loucura seja seu estado mental. Louca. Louco. Loucos! E não é por amor.

Tudo pode ser um pouco exagerado, já que nada está realmente baseado em nossa perspectiva, mas ainda sinto o sangue pulsar rapidamente pelas minhas veias. Ainda vejo elas saltarem e conforme tudo isso acontece, percebo que o meu corpo esquenta ainda mais por dentro. Por outro lado, se alguém me tocasse nesse momento, poderia muito bem me confundir com algum tipo de gelo.
A chuva cooperou comigo. E, pela primeira vez nesse período, as coisas tendiam a ficar aliviadas. Não melhores. Não. Era cedo demais para alguma melhora. Mas tudo ficaria sem tanta pressão, batidas e cuspes. Porque tudo iria cessar. Por um tempo. Por dias. Talvez, para sempre.

É difícil entender a complexidade das pessoas. Seus sentimentos acabam estragando muitas coisas; pois são indestrutíveis. Porque quando acreditamos tanto em sentir, tudo parece realmente verdadeiro.
Mais uma ilusão.
Um fato para se comprovar com o coração.
Falta de racionalidade.
Pois nem todos tem a mesma capacidade que eu e algumas excessões.
Ver. Se interessar. Não se misturar.

Vocês são água; eu e outros somos óleo. Nos conhecemos, assim, superficialmente. Mas nunca ficaremos realmente juntos.
A água é pura, limpa, ingênua. O óleo é grosso, difícil de se largar. A água logo seca, o óleo marca. E dentre muitas diferenças, nunca poderei afirmar sem ser hipócrita que sou melhor que você. E nem preciso. Tenho pessoas hipócritas o suficiente para me afirmarem todos os dias a mesma coisa. Porque sou uma companheira para a vida toda. Me basto desde que eu me conheço como gente. Sem apoios, eu não caio. E se estou sofrendo agora, um pouco de sangue resolverá tudo. Sempre foi a solução de mudanças imutáveis.